quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

S. VALeNTiM, O RoMAnCe A VIoLÊnCiA E o aMoR - UmA PeQuEnA fÁbULa.

 



Em rescaldos do dia de S. Valentim, pergunto porque é que tendemos a romancear a violência nos relacionamentos amorosos?

Será que sabemos verdadeiramente o que é amor? Ou, de alguma maneira, fomos enganados a achar que a obsessão, o ciúme, a possessão, o controlo, a manipulação e a culpabilização do outro, é amor?

Começo por dizer, escrever, que não sou nenhuma especialista renomada nesta área, não sou estudiosa afincada na mente humana, sou apenas uma curiosa observadora de comportamentos e admito ter alguma perspicácia para o assunto, contudo, fui, como talvez todas ou quase todas as mulheres que conheço de alguma forma vítima do que escrevi acima.

Falo em mulheres, porque sou uma, mas poderá ser aplicado a todo o ser humano.

Não utilizo a palavra vítima de ânimo leve, uma vez que para se considerar vítima, tem de existir primeiro a consciência que houve um agressor, e isto meus caros, não é fácil, uma vez que é “normal” e até “romântico” determinado tipo de comportamento e segundo, aceitar desconstruir a personagem montada por nós, e existente apenas na nossa cabeça, a quem um dia chamamos de meu amor.

Perceber que se foi vítima implica questionamento, sobre nós próprios, quem somos e porque é que o permitimos, implica ultrapassar a raiva que arde pela falta de honestidade que tivemos connosco e, mais tarde, perceber que tudo o que se considera “normal” no amor está, simplesmente, errado.

Crescemos a acreditar que a Bela e o monstro era, uma história romântica, mas, vejamos com atenção, em linhas gerais:

O monstro rapta a Bela, tranca-a no seu castelo, até que, com o tempo, a Bela se apaixona por ele e pumm… ele transformasse aos olhos dela, num príncipe.

Um “amor” que começa com um rapto, mete clausura no meio e, por fim, vem a paixão transformadora do monstro.

Esta história é a representação da síndrome de Estocolmo. Será romântica? Será amor? Tenho a certeza que não.

Como estas histórias existem muitas outras, que se virmos atentamente, sem mimimis associados ou floreados percebemos que são apenas doentes e como tal nada amorosas.

Pensem na Pequena Sereia, na história original de Hans Christian Andersen, a Ariel por amor, aceitou:

  • Perder a sua voz;
  • Nunca mais poder voltar ao oceano (onde estava a sua família e amigos);
  • Trocar a cauda por um par de pernas, no entanto, ao andar nas suas pernas sentia frequentemente como se estivesse a caminhar sobre facas afiadas e os seus pés sangrariam terrivelmente,

e, apesar de toda esta transformação para se adaptar ao Príncipe, este casou com outra, e Ariel de coração despedaçado, atira-se ao mar e transforma-se em espuma.

Ariel deixa de ser quem é, porque agradar o príncipe assim o exigia, e mesmo assim, ele casou com outra e isso, levou-a ao abismo.

Esta é uma história trágica, tida como romântica, e mesmo que na história da Disney o Príncipe tenha casado com Ariel, vejam o que ela sacrificou para estar ao seu lado.

Pergunto, isto é considerado normal porquê?

  • se tem ciúmes - não é amor;
  • se te culpabiliza pelas suas próprias reações, desresponsabilizando-se - não é amor;
  • se problematiza a tua forma de vestir - não é amor;
  • se te isola - não é amor;
  • se te controla - não é amor;
  • se te humilha - não é amor;
  • se te insulta - não é amor;
  • se é instável “por tua causa” - não é amor;
  • se é abusador - não é amor;
  • se é manipulador - não é amor;
  • se te encolhe porque “te acha mais e melhor” - não é amor;
  • se há violência (física/psicológica/ sexual) - não é amor;
  • se não há paz nem estabilidade – não é amor.

Poderia colocar mil frases e vocês poderiam acrescentar outras mil, tudo o que não é aceitação do outro pelo outro, liberdade de ser e estar, tudo o que não se considere escolha livre, não é amor, por mais que sejam aparentemente carinhosos, meigos, bonitos, simpáticos, cultos, importantes, etc., mas que te faça sentir alguma das coisas acima, não é amor.

O mundo está cheio de filmes, livros, músicas que se dizem representantes de amor, mas se estivermos atentos e dispostos a questionar o que vemos e ouvimos, poderemos eventualmente perceber que temos de mudar estas “verdades”, e acima de tudo, temos de deixar de ser crianças em corpos de adultos, e crescer!

Por isso, o questionamento é a chave que leva ao conhecimento que por sua vez, leva ao crescimento.

O amor é uma escolha, não uma obrigação, e se decidires ficar, fica enquanto te fizer sonhar!

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