Será que sabemos verdadeiramente o que é amor? Ou, de alguma maneira, fomos enganados a achar que a obsessão, o ciúme, a possessão, o controlo, a manipulação e a culpabilização do outro, é amor?
Começo por dizer, escrever, que não
sou nenhuma especialista renomada nesta área, não sou estudiosa afincada na
mente humana, sou apenas uma curiosa observadora de comportamentos e admito ter
alguma perspicácia para o assunto, contudo, fui, como talvez todas ou quase
todas as mulheres que conheço de alguma forma vítima do que escrevi acima.
Falo em mulheres, porque sou uma, mas
poderá ser aplicado a todo o ser humano.
Não utilizo a palavra vítima de ânimo
leve, uma vez que para se considerar vítima, tem de existir primeiro a consciência
que houve um agressor, e isto meus caros, não é fácil, uma vez que é “normal” e
até “romântico” determinado tipo de comportamento e segundo, aceitar
desconstruir a personagem montada por nós, e existente apenas na nossa cabeça, a
quem um dia chamamos de meu amor.
Perceber que se foi vítima implica questionamento,
sobre nós próprios, quem somos e porque é que o permitimos, implica ultrapassar
a raiva que arde pela falta de honestidade que tivemos connosco e, mais tarde, perceber
que tudo o que se considera “normal” no amor está, simplesmente, errado.
Crescemos a acreditar que a Bela e o
monstro era, uma história romântica, mas, vejamos com atenção, em linhas gerais:
O monstro rapta a Bela, tranca-a no
seu castelo, até que, com o tempo, a Bela se apaixona por ele e pumm… ele transformasse
aos olhos dela, num príncipe.
Um “amor” que começa com um rapto, mete
clausura no meio e, por fim, vem a paixão transformadora do monstro.
Esta história é a representação da
síndrome de Estocolmo. Será romântica? Será amor? Tenho a certeza que não.
Como estas histórias existem muitas outras,
que se virmos atentamente, sem mimimis associados ou floreados percebemos que são
apenas doentes e como tal nada amorosas.
Pensem na Pequena Sereia, na história original de Hans Christian Andersen, a Ariel por amor, aceitou:
- Perder a sua voz;
- Nunca mais poder voltar ao oceano (onde estava a sua família e amigos);
- Trocar a cauda por um par de pernas, no entanto, ao andar nas suas pernas sentia frequentemente como se estivesse a caminhar sobre facas afiadas e os seus pés sangrariam terrivelmente,
e, apesar de toda esta transformação
para se adaptar ao Príncipe, este casou com outra, e Ariel de coração
despedaçado, atira-se ao mar e transforma-se em espuma.
Ariel deixa de ser quem é, porque agradar
o príncipe assim o exigia, e mesmo assim, ele casou com outra e isso, levou-a ao
abismo.
Esta é uma história trágica, tida
como romântica, e mesmo que na história da Disney o Príncipe tenha casado com Ariel,
vejam o que ela sacrificou para estar ao seu lado.
Pergunto, isto é considerado normal porquê?
- se tem ciúmes - não é amor;
- se te culpabiliza pelas suas próprias reações, desresponsabilizando-se - não é amor;
- se problematiza a tua forma de vestir - não é amor;
- se te isola - não é amor;
- se te controla - não é amor;
- se te humilha - não é amor;
- se te insulta - não é amor;
- se é instável “por tua causa” - não é amor;
- se é abusador - não é amor;
- se é manipulador - não é amor;
- se te encolhe porque “te acha mais e melhor” - não é amor;
- se há violência (física/psicológica/ sexual) - não é amor;
- se não há paz nem estabilidade – não é amor.
Poderia colocar mil frases e vocês poderiam acrescentar outras mil, tudo o que não é aceitação do outro pelo outro, liberdade de ser e estar, tudo o que não se considere escolha livre, não é amor, por mais que sejam aparentemente carinhosos, meigos, bonitos, simpáticos, cultos, importantes, etc., mas que te faça sentir alguma das coisas acima, não é amor.
O mundo está cheio de filmes, livros,
músicas que se dizem representantes de amor, mas se estivermos atentos e
dispostos a questionar o que vemos e ouvimos, poderemos eventualmente perceber
que temos de mudar estas “verdades”, e acima de tudo, temos de deixar de ser crianças
em corpos de adultos, e crescer!
Por isso, o questionamento é a chave
que leva ao conhecimento que por sua vez, leva ao crescimento.
O amor é uma escolha, não uma obrigação,
e se decidires ficar, fica enquanto te fizer sonhar!